sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

O velho


Acordo de manha para vir para o meu trabalho, entro no ônibus como é de costume, com um diferencial.Comecei a ler um livro, Roteiro de Cinema e Televisão de Flavio Campos. Livro muito bom, ensina a técnica de escrever historias e estórias a partir da capacidade de perguntar, mas e “se”.


Sento-me do lado de um velho, trajado todo de preto e com um guarda-chuva enorme na mão, quase uma bengala. Hoje o dia está chuvoso. Retomo a minha leitura, após observar o velho que aparentava uns 75 anos de idade. Percebo que ele olha para o livro como se quisesse acompanhar a minha leitura, viro a pagina e ele me segue com seus olhos cansados, então percebo que agora ele me olha e não, mas o livro.


Olho para ele como a esperar alguma indagação, e ele com uma voz já sem gravidade me pergunta se eu estava lendo livro de musica. Respondo que não e explico a minha leitura a ele, então ele me diz que é muito bom estudar, que sem duvidas é muito bom estudar.
Ele logo se levanta, já estamos no centro e o ponto dele é o próximo. Nos despedimos apenas com um olhar, aquele olhar que diz, adeus.Então não consigo retornar a ler, fico vendo o velho descer do ônibus, fico pensando alguns instantes.


Pergunto-me quem era aquele velho? Por que me perguntou sobre o livro?Será ele somente uma pessoa carente de afeto, de alguém com quem possa conversa? ou seria ele um pensador, quem sabe um musico?, pois demonstrou o interesse em saber se o livro se tratava de musica.ou será somente uma pessoa que não teve grandes oportunidades de estudo, e agora olha com carinho alguém que para ele pareça estudar.E vejo como o mundo e desigual, porque não temos todos a mesmas oportunidades.


O conhecimento é publico, ele esta ali, mas não é tão fácil assim chegar ate ele, é como se para alguns o saber não fosse permitido, como algumas pessoas olham carros de luxo, mansões de milhões e sabem que talvez não irão possuí-los, algumas pessoas olham o conhecimento, não aquele que se adquiri com a experiência, mas aquele que só vamos ter com acesso a livros, escolas, faculdades...e parece ser tão distante da sua realidade.
Gostaria de ter tido mais tempo pra falar com o velho, perguntar quem ele é, o que faz na vida. Conversar sobre musica, quem sabe até mesmo sobre cinema.
E se encontra-lo de novo e “se”...?

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